O sol da tarde
preenche o céu de rubor e pinta de dourado a pele do escritor, que insiste em
tomar à mão a caneta para sujar a branca folha de tinta. O vento que sopra,
brinca com a sensibilidade da pele que se faz sentir no balouçar dos pêlos que
lhe cobrem o corpo. E o vento, não contente, se manifesta no ranger das folhas
e galhos das árvores, que gemem o prazer do frescor da brisa que alivia a
sensação do mormaço quente que cai sobre a terra numa onda densa qual o ar
fosse o próprio mercúrio. E por um pequeno instante os pássaros não se fazem
ouvir ou seriam insetos os donos de todos aqueles rumores?
Os pés que
tocam a terra reclamam das fisgadas das benditas formigas que se desesperam
diante da tranquilidade do homem que escreve, o mesmo que rufa os tambores da
guerra cada vez que bate o seu coração e amedronta os pequenos soldados em
choque. Na boca o seco sabor da poeira que denuncia a baixa umidade e deixa o
ambiente aparentemente hostil. E o calor arranca da pele a água salobre que
tanto agora quanto antes tinham a intenção de refrescar.
E apesar da
riqueza de detalhes e da simultaneidade de acontecimentos e da diversidade de
vida, tudo é tão calmo, e o vento nem sopra mais tão forte, e os pássaros e
insetos ficaram tão distantes, os pés nem tocam mais o chão e já foi selada a
paz com as guerreiras formigas, e a mente se inundou tão profundamente de vácuo
que o sono chegou e tornou apenas mais agradável essa tarde de fim de inverno.