Às vezes quando
me sento ou quando a mente fica vazia e começa a construir um milhão de
pensamentos, me pego imaginando quando eu for velho. Isso mesmo, idoso. Quando
meus cabelos se tornarem brancos e em poucas quantidades ou não. Quando me
olhar no espelho e ver as marcas do tempo escavadas nos traços do meu rosto,
isso quando eu as vir, ou sob a ajuda de alguma lente convexa ou côncava, seja
lá o que for. Quando meus braços e pernas fazerem-se pesar uma tonelada e todos
os movimentos serem acompanhados de rangidos e cautela. E minha pele castigada
proteger meus frágeis músculos e ossos de algum possível impacto. Uma pele
macia em alguns pontos, esticada e enrugada, e preferencialmente cascuda e
roliça nas extremidades. Quando a luz não for tão clara e à meia-luz se tornar
breu. Quando tiver como hobby relembrar com os resquícios dos amigos as
histórias de outrora. Quando sonhar com a chance de ter uma máquina do tempo
para poder ser de novo menino, mas com a experiência do velho. Quando usar
uma camisa social entreaberta debaixo do sol escaldante do verão e sentir o calor
escorrer em forma de suor, qual fosse uma bica o pescoço flácido e quando o
calor for mais quente e sofrido quanto como nunca o fora até então. Quando todo
o amor pela minha amada possa se transmitir através de um selinho carregado de
cumplicidade, amor e amizade e não mais que isso, por um abraço que recheia
ambos os braços e a alma de um vazio pleno, e eu acho que o nome disso será
paz. Quando marejarem os meus olhos na formatura dos meus filhos. Quando meus
filhos e minhas noras deixarem meus netos para cuidarmos eu e minha velha,
enquanto eles praticam a vida social ou amorosa. Quando tiver dentro dos meus
braços os frutos dos meus filhos afagados sob um cafuné e um beijo no rosto ou
nos cabelos e essa é a parte mais linda. Quando fazer deles meus filhos de novo
e mimá-los mais que os primeiros, com brincadeiras, com histórias, com terra,
água, mato e natureza, bolo de fubá e chocolate, pião e iôiô, bola e pipa no
céu e me fazer criança pela terceira vez. Quando encontrar neles alegria mais
uma vez para viver tudo de novo. E de limpar os arranhões e machucados e as
lágrimas de qualquer ferimento ou desconsolo. Mas também dos puxões de orelha e
de chamar-lhes a atenção, de pegar no pé quanto aos estudos e as prevenções.
Quando eu ver a preocupação exagerada dos mais novos por problemas tão fáceis
de serem resolvidos, ou que não necessitem nem de preocupação alguma. Quando
tiver certeza de que toda viagem será feita no conforto de um banco em qualquer
transporte público e ter que ouvir os cochichos maldosos da nova geração
reclamando o meu direito. É, me pego imaginando quando eu for velho, quando eu
passar as tardes sentado na calçada curtindo a brisa e o movimento, vendo
passar os homens e mulheres e a criançada, jogando conversa fora com os
vizinhos na boca do portão. Quando eu sorrir frente à doença vendo o desespero
e os cuidados do meu amor para comigo e as visitas ao médico se tornarem parte
da minha rotina. Quando servir café para as visitas sentados no sofá de casa ao
lado da minha mulher. Quando eu olhar para trás e ver o fogo da paixão
consolidado em amor de pura qualidade refletidos no olhar terno daquela com
quem eu jurei amor pralém da morte. Quando tiver a sensação de uma vida mais
cheia de certeza e ver tudo fazer mais sentido. Quando tiver a percepção de que
nada foi em vão e que na verdade essa coisa de viver foi algo muito
bom. Às vezes quando me sento ou quando a mente fica vazia e começa a
construir um milhão de pensamentos, me pego imaginando como vai ser quando eu
for feliz.
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