segunda-feira, 28 de junho de 2010

Sentença

Tem toda uma lua lá fora, e uma noite vazia na pequena cidade. Só o barulho dos carros na estrada longínqua que zunem suas velocidades altas no meio da madrugada. O vento também sopra na copa das árvores que não conseguem dormir, o vento não deixa. Mas o sofrimento delas é o entretenimento do indivíduo que rola na cama sem achar o sono. Quando não o tiritar dos galhos, todos os pensamentos sobre a vida, sobre os amores, sobre os anseios. Mas isso é até bom quando, não havendo tempo no restante do dia que é tomado por todo um repertório de obrigações e deveres. Um tempinho só pra ele mesmo, apesar do cansaço, um tempinho pra ele construir os sonhos e as possibilidades da vida e também sobre a mulher amada, quando não os erotismos que ele descobre em algumas garotas e a eventualidade de uma noite de amor. Não há nada de mais, o moralismo só existe quando da reunião das pessoas. Ele sabe que com todo mundo é assim. Todo mundo pensa assim, todo mundo tem esse tempinho e que todo mundo arquiteta (ir)realidades vertiginosas. Talvez o mundo fosse uma loucura se todo o tempo disponível fosse dedicado só pra isso, mas talvez não fosse tão insensível quanto o que nós vivemos. Ele só pode colher os frutos que o mundo dele oferece, e esse mundo não oferece nada que fuja muito do normal. É a cama o palco das maiores aventuras, o palco dos desejos e o palco dos delírios, só é uma pena ser um mundo imaginário. E é uma pena haver tão pouco tempo pra ele se dedicar ao palco e a si mesmo, até por que ele quer se entregar logo ao sono pra não viver a realidade triste mais penosamente do que já é, no dia seguinte, quando acordar cansado e com sono. Ele tem que dormir, pois o próximo dia vem energético e ele precisa estar tão energético quanto para não vacilar.