segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Retiro

Quando tudo parou de ter gosto
Retirei um cigarro do bolso
Pra tentar espantar o mal agouro
Já que com nada eu estava de acordo

Inflei o pulmão com cinzenta fumaça
Machucando meu corpo por simples pirraça
Repentinamente a pressão ficou baixa
Nesses momentos a vista embassa

Pra fugir de tudo me apeguei ao vício
Recorri ao fumo que é lícito
Pra fazer ter um fim mais bonito
Esse dia que parece infindo

Fumar me causou prazerosa sensação
Tive que recostar a cabeça no colchão
Recordar que eu ainda estou são
Que infelizmente tudo aquilo não é sonho não

A vista turva procurava na janela
As cores que pintavam de aquarela
Estrelas azuis e também amarelas
Que constelação afinal seria aquela?

Recostado brincando de pensamento
Os cabelos balançando ao vento
Me disseram em um curto momento:
Que bobeira é cair em lamento

Peço desculpas ao tempo, caso seja possível
Por derramar um número de lágrimas incrível
Que de certo servirão de combustível
Pra algum sonho pela noite horrível

Mas só por hoje sua licença eu peço
Que não se preocupe meu caro, com meu ego
Que tente ser mais maleável que o ferro
Ficar sozinho por hora é tudo o que eu quero

Amanhã cedo o sol se levanta
As tristezas do peito ele arranca
E as feridas abertas, estanca
Continua com sua mesma dança

Mas brilha forte porque sabe que encanta!

sábado, 3 de dezembro de 2011

Regalo

Um pássaro veio e disse
Em uma noite fresca estrelada
Que o vento assobiou em seu ouvido
Uma ideia que tinha fixada

Que entregasse um bilhete bonito
À sua garota desejada
Para que ela se sentisse tranquila
Por saber que era amada

Pra ela abrir um sorriso gigante
Que iluminasse toda a noite
Para que o claro dissesse ao pássaro
Que ela tinha um singelo amante

Mas que não fosse seu semblante o de irritado
Por revelar o esvoaçante pássaro
Que para lhe entregar o pequeno bilhete

Lhe fosse necessário ficar embriagado

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Dualidade

No calor do amor os cabelos negros e curtos se "arapucam" tornando a mulher fera como um leão, não fosse a pele tão macia e receptiva e talvez fosse mesmo um leão. Porque também me devora, me faz sentir pequeno e me intimida, porque também grunhe, me arranha e me lambe.
No calor do amor os olhos turvos e penetrantes ardem tornando-a minha senhora, como se eu fosse seu escravo. E talvez eu seja mesmo seu escravo, porque te obedeço e de ti tenho medo, mas te preciso. Se tu mandas eu beijo, se tu quer eu te cheiro, se tu fala eu paro. Mesmo quando eu achar que devo continuar, ou melhor, mesmo quando eu precisar continuar.
Como pode uma figura tão bella e de semblante tão calmo, como pode um ser tão frágil e de estatura tão média, como pode ser aquilo a isso?


sexta-feira, 8 de julho de 2011

"?" ?

Quando será que é tempo de mudança? Quando será que é tempo para mudar para melhor? Quando as pessoas vão entender o que é o melhor? Eu já sei, e acho bom. Mas por que eu sou tão covarde e não mergulho dentro desse espaço denso cheio de matéria que é vida? E por que não me deixo preencher esse vazio com todo esse cheio? Por que usar uma justificativa que atribui a culpa do meu medo aos outros? Sei lá, dá vontade de abraçar o mundo todo num abraço ou golpeá-lo inteiro num só soco seco; que é pra sacudir, que é pra acudir, que é pra pressão social me jogar no meio desse turbilhão de prazer! Eu sinto que eu tenho a sensibilidade, mas ela ela sozinha é pior do que se eu não a tivesse, e é porque eu sei, e em saber eu sofro por não fazer, por constatar esse apego, esse apego ao que é velho, que é antigo, que é fácil. Eu quero tudo, mas eu quero tão pouco, tudo que eu quero eu encontro num só paradeiro, pode ser mais ou pode ser menos, mas sendo já tá bom. Que loucura! Eu nem sei pra quê tantas palavras se tá tudo tão claro nas profundezas da minha retina, se tá tudo tão óbvio na minha mente, se tá tudo tão certo no meu ego. Pra quê tudo isso se é tudo tão fácil?


sábado, 21 de maio de 2011

Achado

Eu não sei o que acontece e por isso queria entender
Por quê meu coração vacila toda vez que eu encontro você

E a euforia que eu sinto toda vez ao te ver
Seria medo, ou vergonha? Isso é fruto do quê?

Se toda vez que se cruzam nossos olhares sua resposta é um sorriso
Por quê é então que eu faço do acaso nosso arqui-inimigo?

Por que é então que quando te vejo eu não te fecho num abraço?
E teus braços não me entrelacem com a firmeza de um laço?

E que por um segundo não te conhecer seja o caso
De uma dessas histórias loucas de amor vir às vias de fato.

Pra te dizer que me encantam as flores coloridas estampadas no seu vestido
Assim como seu narizinho empinado que nada têm de metido.

Que teus cabelos semi curtos do castanho meio claro
Tem as mesmas ondas das águas salinas de um mar revoltado

E que os desenhos pintados nas curvas da tua perna
São perfeitos qual as telas pinceladas em aquarela

Na verdade, eu poderia construir para nós um conto todo
Mas quando voltar desse torpor vou me sentir feito um bobo

E em não aguentar por tanto tempo perecer nessa angústia
É que pretendo pôr um fim em tão terrível dúvida

Se estou eu aqui no teu coração ganhando espaço
Ou se na frente de todo esse mundo estou fazendo papel de palhaço?





Encontrei isso nas minhas coisas de alguns anos atrás. É tão atual que se aplicou a uma situação pela qual estou passando, salvo algumas alterações.




Cidade dos Pássaros



Trabalho lindo feito pelo grande irmão e amigo Marcus Vinicius Honório de Oliveira. Parabéns pela sensibilidade!

Costume

Atenta-me que depois de tantos anos tenha meu coração enrijecido. Ao passo que imaginava que o tempo fosse tornando-lhe maleável. Incidindo sobre mim tantas informações e imagens de um mundo tão racional que amortecem qualquer tentativa de manifestação da minha imaginação bruta. Os anos me emburreceram. Pelo contrário, me tornaram técnico, calculista, objetivista. Não, realmente me emburreceram, juntamente com uma sociedade que só precisa dos meus números, resultados, fins, e que viu no meu sorriso a possibilidade de quantificá-lo, qualificá-lo. Tudo que me é solicitado ou exigido é reto, direto, prevê um resultado, tem um sentido, enquanto há tanto tempo o sentido das coisas era o prazer, a comunhão, as gargalhadas, a diversão. Na verdade, também era objetivista, mas creio que tinha um fim mais nobre. Àquela época eu tinha a sensação de ser forte, de ser o escolhido (que ideia boba), de ser o centro do mundo ou o ator principal de uma peça que girava em meu torno (eu sei que soa egoísta, perdão), eu tinha a sensação de que meus músculos eram mais fortes, assim como minha agilidade e perspicácia tinham uma agudez tão forte quanto selvagem, e que a minha física derrubava as leis da gravidade, ou que a gravidade dava mais garbo às minhas qualidades. Hoje, porém, me sinto igual, me sinto o mesmo, fruto da massificação, mais uma coca-cola dentro do engradado, inerte e fraco, tão longe do poder da mudança quanto nunca em outro momento. Na verdade, somos todos a mesma coisa, mas sinto em perceber que estou me tornando o mesmo até onde ser o mesmo significa morrer.


O tempo escorre por entre as frestas do espaço levando consigo inocência e juventude, tornando o que era novo em velho, o que era surpreendente em usual, definhando o amor dos apaixonados e fazendo-lhe desavenças e desentendimentos. Ao mesmo tempo que traz consigo sabedoria, carisma e humildade, vai desgastando todas as sensações possíveis. Todas elas perdem o vigor, a força e a pulsação. A verdade é que o prazer vai sempre estar no novo e no diferente. E aquilo com que estamos acostumados vai nos impregnando de si até tornar-se um hábito, que fere se não feito, mas que não sustenta como em outros tempos.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Tempestade

Em alto mar a barca se perde no meio do azul, que em degradê vai tornando-se cinza até a água tocar o céu em tom enegrecido, azul escuro. O beijo celeste é selvagem ao ponto de fazer o há tão pouco calmo mar tornar-se esquizofrênico, ou seria a pura expressão do desejo todo aquele frenesi? O sopro que toca o pé do ouvido náutico excita cada gota salina que em enormes quantidades dançam organizadamente o corpo da onda, que em descompasso com os outros grupos se engalfinham/atracam umas nas outras, tornando a espatifar-se inertes novamente no mar. A pequena embarcação é engolida pelo vento que a chupa até fazê-la esbarrar nas ondas enormes e furiosas que deixam a espuma raivosa e doentia no assoalho da nau toda vez que caem e levam consigo um pedaço de terra firme consigo. De dentro daquele cinza resmungam os deuses enormes raios que cortam o ar desesperados sem saber pra onde ir, sem saber que todos eles morrem agonizantes na água. Os clarões repentinos e os rasgos no céu trazem consigo o grito rouco e brabo e que se faz sentir tão presente quando estremecem a carcaça de qualquer ser vivo ao redor de si, até mesmo a mais valente das feras, ou o mais ousado navegante, seja ele um aventureiro ou um filho do mar que tira dele o seu alimento. Mas seja quem for, não há quem duvide que a tempestade é o exemplo vivo da morte. As madeiras da barca choramingam aos rangidos a dor da surra que toma, enquanto o capitão, louco, soa sangue arrastando a embarcação contra a tempestade. As gotas que caem do céu rasgam o ar e explodem nas costas da tripulação angustiada que permanece quieta frente o desrespeito do homem que pilota através do leme o destino de suas vidas. O capitão, pressionando entre o leme e as mãos a corrente de Yemanjá, veste-se de toda a sobriedade do mundo. Ele não é louco nem nada do tipo. A experiência no mar só o faz lembrar que após toda tempestade, o mar e o céu se reconciliam, e tudo se reveste de calma. É só esperar.